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Quem é o amor da sua vida?

No último episódio da primeira temporada da série Desejo Sombrio, da Netflix, a protagonista Alma apresenta uma reflexão sobre o amor aos seus alunos, após o suicídio de sua melhor amiga:

A vida não tem sentido se não estivermos resguardados por um grande amor. Mas que ordem social é essa que define que não podemos ser felizes sozinhos? Por que a ideia de completude é sempre tão ligada ao sucesso afetivo? Principalmente considerando as mulheres… “a mulher precisa se casar”. Assim, pensando em feminicídio, vemos que as mulheres não precisam necessariamente ser mortas por um homem. As mulheres podem ser mortas pouco a pouco, dia após dia, por uma cultura opressora.

Sartre traz à tona a atitude de má-fé em que o indivíduo se lamenta por paixões não vivenciadas e amores não correspondidos e que a sorte não lhe sorri, sempre atribuindo toda a causa dessa sucessão de insucessos à fatores externos. Negligenciando, dessa forma, sua potencialidade de liberdade para protagonismo de sua própria vida e para construção de si: 

O quietismo é a atitude das pessoas que dizem: os outros podem fazer aquilo que eu não posso fazer. A doutrina que vos apresento é justamente a oposta ao quietismo, visto que ela declara: só há realidade na ação; e vai aliás mais longe, visto que acrescenta: o homem não é senão o seu projeto, só existe na medida em que se realiza , não é, portanto, nada mais do que o conjunto dos seus atos, nada mais do que a sua vida (SARTRE, 1978, p.13).

Mas, o que é o amor?

O amor é um “sentimento afetivo que faz com que uma pessoa queira o bem de outra. Sentimento de afeto que faz com que uma pessoa queira estar com outra, protegendo, cuidando e conservando sua companhia” (DICIO). O amor é um sentimento único e catalisador, e, por isso, engloba diversas emoções. 

Heidegger, em seus seminários sobre Nietzsche, esclarece que o amor, assim como o ódio, cruzam o nosso ser desde a origem, sempre presente em nós, diferentemente dos demais simples afetos, excedendo a relação emocional entre um casal, mas no sentido correlacionado ao cuidado, pertinente a compreensão do ser e a solicitude libertadora.

O amor, estando a pessoa emocionalmente saudável, possibilita, tanto à quem oferece quanto à quem recebe, sentimento de gratidão e tranquilidade. Esses sentimentos são fundamentais à satisfação pessoal com a vida.

Existem vários tipos de amor, dentre eles: materno e paterno, fraterno, amor de amigos, o romântico e o próprio.

O amor-próprio

“Amando-se propriamente, o homem reconhece a sua condição de ser criado e bem estima as coisas conforme a sua dignidade em ser amadas, mantendo desse modo, o amor ordenado, na medida em que não ama aquilo que não é digno de amor e, tampouco, deixa de amar o que merece ser amado; nem privilegia aquilo que deve ser menos amado, nem ama na mesma intensidade o que se deve amar menos ou mais.” (LIMA, 2015)

Ou seja, antes de tudo, amor-próprio!

O amor-próprio se inicia com o autoconhecimento e com a maneira como você cuida de si mesmx. É um apreço por si mesmo que nos direciona a ações para o desenvolvimento psicológico, emocional, físico e espiritual.

Você pode desenvolver o amor-próprio iniciando por:

  • Seja gentil com você.
  • Seja fiel a você mesmo.
  • Acredite em você mesmo.
  • Se errar, não se puna.
  • Acolha seus defeitos.
  • Valorize suas qualidades.
  • Dedique tempo a você diariamente.
  • Não se compare aos outros.
  • Se presenteie.
  • Se ame!

Não encarregue os outros de te dar aquilo que você não tem. Antes de ser amadx pelas pessoas, é necessário se amar, se acolher, se cuidar. E para amar os outros, é necessário ter amor em si. 

E, por fim, saiba que você se basta. Mas a vida pede relações. Para sermos o que somos, dependemos das trocas que fazemos com as demais pessoas e com o mundo. Afetamos e somos afetados. Então, devemos nos amar, mas também devemos nos permitir ser amados.

O amor romântico

Sartre coloca o amor dentre as relações concretas que uma pessoa experiencia ao longo de sua vida. Considerando a unificação dos amantes em uma relação em ‘um só’, Sartre diz ser “esse ideal irrealizável (…) não é assimilável ao amor, na medida em que o amor é um empreendimento, ou seja, um conjunto orgânico de projetos rumo a minhas possibilidades próprias” (SARTRE, 2011, p.456-457). 

Platão (2000) traz que o amor é inato ao ser humano, que passa a maior parte da sua vida em busca de uma metade perdida. E, por meio da união  mútua, o casal se cura dos males da separação a que foram submetidos voltando a ser um só. E, enquanto juntos, essa união torna-se cada vez mais forte gerando assim o amor.

Heidegger traz o amor como uma possibilidade da relação ser-com, é o querer como bem-querer, o fundamento do cuidado:

Seria de perguntar se todo grande amor, que por si só já anuncia desde sempre algo essencial, não seria no fundo uma luta; não única e primordialmente uma luta pelo outro, mas uma luta em favor dele; e se todo grande amor não cresce na mesma medida em que a sentimentalidade e a comodidade dos sentimentos decrescem. Mas isso é suficiente por agora. (HEIDEGGER, 2009)

O amor é um troca que envolve amar e ser amado. Uma relação amorosa exige reciprocidade para que seja uma relação. Não há sustentação em uma relação romântica unilateral. Amar é escolher diariamente àquelx que se ama.

Cada pessoa tem sua forma de amar. E, mais ainda, sua forma de demonstrar amor.

Amor é entrega. É cuidado. É carinho. É reciprocidade.

O hormônio do amor

Biologicamente também existe amor em nós. A ocitocina, também conhecida como o hormônio do amor, é o hormônio produzido pelo hipotálamo que “promover as contrações musculares uterinas; reduzir o sangramento durante o parto; estimular a libertação do  leite materno; desenvolver apego e empatia entre pessoas; produzir parte do prazer do orgasmo; e modula a sensibilidade ao medo (do desconhecido)” (WIKIPEDIA).

No nosso organismo, a ocitocina atua no combate ao estresse, diminuição da ansiedade, aumento da libido, desenvolvimento de empatia, estimulação da compaixão. Também está associada ao desenvolvimento da generosidade.

Existem várias maneiras de estimular a liberação de ocitocina em nosso organismo, mas a mais fácil é o abraço. Abrace diariamente as pessoas que você quer bem. E (se) ame!

Você está feliz com a forma como (se) ama e como é amada/o?

Psicóloga Adriana Lopes – CRP 04/54908 – @psiadriana

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

– AMOR. In: DICIO. Disponível em: https://www.dicio.com.br/amor/.

– OCITOCINA. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Ocitocina&oldid=52709003.

HEIDEGGER, Martin. Introdução à filosofia. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2009.

HEIDEGGER, Martin. Seminários de Zollikon. Protocolos. Diálogos. Cartas. México: Jitanjáfora Morelia Editorial / Red Utopia Asociación Civil, 2007.

LIMA, Priscila Sissi. O caminho do amor: a possibilidade existencial do amor em Heidegger e sua importância para a investigação do justo. Tese apresentada à Faculdade de Direito da USP. 2015.

PLATÃO. O banquete. 3. ed. Portugal: Europa-America. 2000. 

SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. Tradução de Vergílio Ferreira. São Paulo: Abril Cultural, 1978. 191 p. Título original: L’Existentialisme est un Humanisme. (Os pensadores).

SARTRE, J. P. O ser e o nada: Ensaio de Ontologia Fenomenológica. 20. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2011.

Envolva-se!

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